quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Terapia genética contra a dor

Cientistas americanos anunciam o sucesso de método que usa o poder de um gene para reduzir drasticamente o sofrimento
Rachel Costa

Um novo método em teste nos Estados Unidos pode revolucionar o tratamento da dor crônica. Cientistas do Departamento de Neurologia da Universidade de Michigan estão fazendo as primeiras aplicações em seres humanos de um procedimento baseado em terapia genética. Os voluntários são dez pacientes que sofrem dores agudas e constantes causadas por câncer. Eles estão recebendo injeções sob a pele de um composto contendo um gene, o PENK, responsável pela produção de encefalina – um dos opioides naturalmente fabricados por nosso organismo e que possui efeito analgésico. Nos testes feitos até agora, os pacientes que receberam altas doses obtiveram uma redução da dor de até 80%.

O resultado é animador. Especialmente por representar uma grande esperança para os portadores de dor de origem neurológica. “Essas são as mais difíceis de tratar”, explica João Batista Garcia, presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor. “Com os medicamentos que temos hoje à disposição, comemoramos quando o doente consegue uma redução de 30% na intensidade”, diz.
O método abre uma nova frente na batalha contra a dor e tem potencial para eliminar a necessidade do uso de analgésicos farmacológicos, que comumente causam efeitos colaterais como constipação, sonolência, náuseas e vômito. Por meio dele, é possível dar condições ao próprio organismo de produzir os opioides necessários para bloquear a sensação dolorosa.

Outra vantagem da terapia gênica é atuar apenas sobre o alvo. Enquanto o medicamento comum percorre um longo caminho até a origem da dor, passando por vários órgãos através da circulação sanguínea, o gene injetado age diretamente sobre as células nervosas – exatamente aquelas por meio das quais o sinal da dor é transmitido até o cérebro, onde é processado.

Isso é possível porque ele é levado até elas por um vírus, o da herpes simples. “Normalmente, quando entra no corpo, esse vírus procura as células nervosas”, explica a médica Fabíola Minson, coordenadora da equipe de tratamento da dor do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Por isso ele foi o escolhido. Porém, para o procedimento, o vírus passa por modificações: a parte do seu material genético causadora da doença é retirada e a ele é adicionado o gene PENK. Dessa maneira, ele se torna um ótimo veículo transportador, carregando o gene certo para o lugar certo, sem oferecer nenhuma ameaça à saúde. “O composto contendo o vírus modificado, após ser aplicado nos terminais nervosos da pele, começa a estimular o corpo a produzir a encefalina”, disse à ISTOÉ David Fink, coordenador da pesquisa.

Em uma etapa anterior, ainda durante os testes em animais, o método mostrou-se eficiente também em casos de dor crônica causada por lesão dos nervos e inflamações, além de câncer. A equipe americana pretende, até o fim do ano, ter em mãos os resultados da segunda fase dos estudos clínicos – na qual compara-se um grupo medicado com placebo a outro que recebeu a terapia.

Tratar a dor crônica é um dos maiores desafios atuais da medicina. Grande incidência e poucas opções de tratamento são os principais empecilhos. No Brasil, calcula-se que uma a cada três pessoas sofra com o problema, usualmente tratado por meio de analgésicos, anticonvulsivantes e antidepressivos. O surgimento de uma terapia mais eficiente é esperança de mais qualidade de vida aos milhares de pessoas que hoje têm de se acostumar a viver com a dor.





Fonte: http://www.istoe.com.br/reportagens/133271_TERAPIA+GENETICA+CONTRA+A+DOR

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Saiba mais sobre a estimulação medular espinhal, uma alternativa no tratamento da dor crônica

Escrito por Dr. Claudio Fernandes Corrêa

A dor crônica  é um sintoma que acomete a população de ambos os sexos e de diferentes faixas etárias, debilitando o indivíduo e interferindo na sua qualidade de vida. Para tratá-la, muitas vezes as terapias convencionais, baseadas em medicamentos e outras áreas adjuvantes, não são mais eficazes e suficientes, exigindo novas formas de tratamentos intervencionistas.

Quando as terapias convencionais falham no tratamento da dor crônica, uma das opções que têm ganhado espaço na medicina é a estimulação medular espinhal (EME). Trata-se de uma técnica na qual, após o uso de anestésico local, o especialista coloca fios flexíveis e finos com condutores elétricos, chamados de eletrodos, nas costas, dentro da coluna vertebral. A partir daí, os eletrodos são conectados a uma pequena bateria, que possibilita programar a corrente elétrica numa configuração que se direcione às regiões dolorosas exatas para promover o melhor alívio possível.

Segundo o neurocirurgião Claudio Fernandes Corrêa, a estimulação medular espinhal traz vantagens em relação a outros procedimentos cirúrgicos considerados mais invasivos por não apresentar efeitos colaterais e por ser reversível.

"A neuroestimulação medular apresenta grau de evidência para diferentes indicações. Naquelas indicações onde o grau de evidência científica não está claramente definido, há experiências inquestionáveis de grupos profissionais em instituições acadêmicas sérias, comprovando sua eficácia. Além de tudo, é um método de estimulação e reversível, se necessário for", ressalta.

Apesar de ter algumas contraindicações, o tratamento com a estimulação medular oferece um índice de redução da dor bastante elevado e que só pode ser compreendido por aqueles que sofrem com a dor crônica e têm comprometidas as suas atividades cotidianas.

"As contraindicações relacionam-se a condições clínicas gerais desfavoráveis, tais como processo infeccioso em vigência, além de distúrbios de coagulação, por exemplo. As indicações principais são relacionadas ao quadro de dor crônica neuropática e, menos frequentemente, dor mista, como nos pacientes com câncer que evoluem com dor", completa Claudio.

Outras aplicações da técnica

A técnica da neuroestimulação cresce exponencialmente em todo o mundo e é estudada por diversos pesquisadores da área neurocirúrgica, urológica, gastroenterológica e neurológica, entre outras. Anualmente, esses estudiosos apresentam seus trabalhos no Congresso Mundial de Neuromodulação, que ocorrerá em 2013 na cidade de Berlim, na Alemanha.

Com o avanço dos estudos na área, verificou-se a possibilidade de aplicação da técnica de estimulação em outras áreas além das dores crônicas, como na de neurocirurgia funcional. "A neuroestimulação envolve o tratamento dos transtornos do comportamento (depressão refratária, transtorno obsessivo compulsivo, agressividade, transtorno de ansiedade, etc.), bulimia, anorexia, síndromes de adição (cocaína, heroína, morfina, crack, tabagismo) e déficit de memória, como no Alzheimer", afirma Claudio.

Ainda de acordo com o neurocirurgião, a neuroestimulação também pode ser empregada na reabilitação de pacientes que sofreram acidente vascular encefálico, além de doenças com a presença de movimentos involuntários, como Parkinson, Distonia, Tremor Essencial.

Fonte: http://idmed.terra.com.br/viva-melhor/dicas-basicas/saiba-mais-sobre-a-estimulacao-medular-espinhal-uma-alternativa-no-tratamento-da-dor-cronica.html

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Responsabilidades e o papel da fisioterapia no tratamento da dor


Por:
Artur Padão Gosling
Alessandra Evaristo Dantas
Humberto Leal Cruz Neto
Raphael Luz de Souza
Marcia Valéria Aquino Molinaro

      Ao considerarmos a dor como o principal sintoma que faz as pessoas buscarem serviços de saúde, a fisioterapia tem a responsabilidade de atuar significativamente nos cuidados ao paciente com dor. Porém, se consideramos a dor como um problema de saúde, atuação da fisioterapia depende da integração multiprofissional e interdisciplinar. Síndromes dolorsosas como as cefaléias, lombalgias, fibromialgia e síndrome dolorosa miofascial, comuns a diversos serviços de saúde brasileiros, mantém pacientes incapacitados e afastados de suas atividades diárias. Em vista disso, a formação do fisioterapeuta brasileiro se encaixa nas necessidades dos pacientes com dor, principalmente quando falamos de controle da dor e recuperação físico funcional. Abordagens são propostas com o objetivo de modular a dor, modificar percepções distorcidas e comportamentos anormais, combater crenças, mitos e atitudes disfuncionais, ganho de função, retorno as atividades e melhora da qualidade de vida. Por isso, podemos dizer que a fisioterapia no tratamento da dor é uma intervenção física e cognitiva comportamental, baseada em estratégias de educação e manejo da dor.

       A atuação nos diversos níveis de atenção a saúde também são de responsabilidade do fisioterapeuta. Apesar da aceitação sobre a dor ser um problema de saúde mundial, a avaliação, tratamento e prevenção da dor são desafios a serem superados. Barreiras como a falta de conhecimento científico, a falta de pesquisas e de fundos financeiros contribuem para o subtratamento da dor por fisioterapeutas e outros profissionais. Eventos promovidos nos últimos 5 anos pela Associação Internacional para o Estudo da Dor concluíram que existe um grande déficit de conhecimento sobre a neurofisiologia e manejo da dor em todos os profissionais da saúde. Portanto, se faz necessária uma formação diferenciada e de educação continuada em dor.


       A responsabilidade social do fisioterapeuta vai além do tratamento da dor. O respeito e dedicação ao paciente com dor são pontos muitas vezes esquecidos pelos profissionais. Frequentemente, pacientes com dor são destratados, humilhados pelos serviços de saúde e ignorados pelo seu comportamento de estar doente. A busca incansável por tratamentos, pela cura e por diversos profissionais de saúde são características marcantes aos pacientes que sofrem de dores persistentes, adquirido a necessidade de mostrar a importância dos sintomas aos profissionais – comportamento doloroso. Além disso, é dever do fisioterapeuta devolver aos pacientes o convívio social e estimular o retorno ao trabalho, com o objetivo de fortalecer a economia e valorizar o trabalho dos serviços de saúde brasileiros. Alívio da dor é um direito do paciente com dor, porém o alivio do sofrimento e das incapacidades é uma responsabilidade social e ética do fisioterapeuta.


       O papel da fisioterapia exige uma atuação holística com uma abordagem biopsicossocial, o qual traz uma visão mais abrangente e humana. O contato frequente com os pacientes em sofrimento, com a incapacidade funcional e com as dificuldades em lidar com a dor necessita que o fisioterapeuta seja um profissional diferenciado. Outro importante papel da fisioterapia no tratamento da dor é desenvolver estratégias para uma boa relação com o paciente: comunicação eficaz, habilidades e educação em dor. Por diversas vezes, a relação entre o fisioterapeuta e o paciente com dor torna-se distorcida pela dificuldade que o fisioterapeuta tem em lidar com a dor e com os problemas trazidos dos pacientes, por expectativas opostas e irreais quanto ao tratamento, preocupação excessiva em aplicar técnicas e a pouca integração com outros profissionais de saúde. A maioria dos problemas trazidos pelo paciente com dor persistente não serão resolvidos com modalidades físicas. Portanto, a atuação do fisioterapeuta não deve se limitar somente a aplicação de técnicas para o alívio da dor. A compreensão, a forma de lidar com problemas e preocupações dos pacientes, o entendimento da proposta de tratamento, expectativas reais e as recomendações, bem como o ajuste das terapias as necessidades particulares aumentam as chances de adesão e efetividade do tratamento.
 

      O entendimento da definição de dor proposta pela Associação Internacional para o Estudo da Dor em 1994 resume as principais dimensões envolvidas na dor e mostra justamente as principais deficiências dos profissionais de saúde no conhecimento sobre a dor – “uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a uma lesão real ou potencial dos tecidos ou descrita em termos de tais lesões”. Olhando para esta definição, vemos a importância de fatores emocionais, comportamentais e cognitivos, os quais somam-se aos aspectos físicos dos pacientes, tornando a dor uma experiência subjetiva e pessoal, influenciada por crenças, atitudes, cultura e religião. Portanto, não existe uma dor puramente física ou psíquica. Existem, na verdade, experiências dolorosas que ocorrem ao longo da vida das pessoas e que, em algum momento, podem tornar-se complexas, incapacitantes e sofridas. Cabe ao fisioterapeuta ter um papel profissional de educador, sendo responsável por atender as necessidades da população brasileira e para contribuir de forma integrada as equipes multiprofissionais e interdisciplinares de dor.

Nunca ignore a dor; ela é um importante sinal de alerta do corpo

A dor possui aspectos positivos, pois os incômodos que sentimos no corpo significam que estamos vivos e somos capazes de enviar estímulos ao cérebro

Sabe aquele ditado “ruim com ela, pior sem ela”? Pois é, ele pode ser aplicado à dor. Isso mesmo. O fato é que, apesar de ninguém gostar de sentir dor, ela é muito importante para nossa saúde e bem-estar. Afinal, ela é um sinal de alerta, indicando que algo está errado, e também um mecanismo de proteção, apontando que há um perigo que deve ser evitado.

“A dor é um sintoma muito importante, pois é a forma que o corpo tem de se comunicar com a gente, nos informando de que algo está errado”, afirma o quiropraxista Luiz Miyajima, pós-graduado em quiropraxia esportiva pela New York Chiropractic College (EUA) e responsável pela clínica QuiroVida no Brasil.

Quando uma pessoa sente dor, na maioria das vezes ela tem duas reações: tomar algum medicamento que dê alívio imediato ou ignorar e esperar passar. E as duas reações são muito perigosas.

Muitos brasileiros têm o costume de tomar medicamentos para eliminar a dor – muitas vezes sem procurar assistência médica. Só que isso, além de não resolver o problema, pode também agravá-lo. Afinal, os analgésicos eliminam a dor, mas não a enfermidade, e não tratar a causa da dor pode fazer com que ela se agrave e se torne ainda mais difícil de curar.


“Devemos nos preocupar com o que está causando a dor, e não somente em melhorarmos os sintomas. Descobrir a sua origem é fundamental para evitar o agravamento do problema”, diz Miyajima. Além disso, o abuso de analgésicos tem consequências ruins, pois, com o uso contínuo de medicamentos, o cérebro pode passar a não produzir endorfinas, um analgésico natural, e acarretar problemas como a cefaleia crônica diária.


Por outro lado, muitas pessoas acreditam que a dor é passageira e não é motivo para procurar um médico. Mas isso é igualmente perigoso “Seria o mesmo que ter um alarme contra incêndio e não tomar nenhuma atitude quando o mesmo dispara. Pode ser somente um alarme falso, mas também pode ser um grande incêndio. Por isso a investigação sempre deve ser realizada”, afirma  Andreia Lusvarghi Witzel, professora de Estomatologia Clínica da USP.


Um bom exemplo dessa situação é o câncer de boca: os pacientes geralmente procuram assistência médica somente depois que a dor se torna muito grande, o que acontece quando o tumor já está em estágio avançado - o que dificulta e pode inviabilizar o tratamento.


Dores nas costas, que geralmente são ignoradas, podem esconder problemas mais graves, como o complexo de subluxação vertebral, uma disfunção articular que causa a alteração da faixa normal de movimento e muitas dores nas articulações.


Por isso é importante não desprezar ou tentar disfarçar a dor, mas sim buscar suas causas. Nenhuma dor, por menor que seja, deve ser ignorada. Se o corpo está enviando um sinal de alerta, é importante ouvi-lo e investigá-lo. “O que temos que ter em mente é que a dor só deve ser tratada depois de diagnosticada, pois eu não desligo o alarme do incêndio enquanto não tiver certeza que o fogo está apagado ou pelo menos que os bombeiros já chegaram”, ressalta Witzel.



  • Se não sentíssemos dor, provavelmente não saberíamos que estamos machucados ou doentes, e não procuraríamos por tratamento
Não sentir dor é problema
Assim, a dor tem um papel fundamental na sobrevivência e preservação. Afinal, se não sentíssemos dor, provavelmente não saberíamos que estamos machucados ou doentes, e não procuraríamos por tratamento, o que levaria a uma piora do quadro e até mesmo à morte. Exagero? Nem um pouco. Algumas pessoas que sofrem de uma doença rara chamada CIPA (insensibilidade congênita à dor) sabem bem como é perigoso não ter esse alarme natural do corpo. Por uma disfunção no sistema neurológico, elas simplesmente não podem sentir qualquer espécie de dor.

O que para alguns pode parecer uma grande vantagem na verdade é um risco muito complicado. Afinal, por não sentirem dor, essas pessoas não percebem situações como queimar a mão numa panela quente, cortar o braço em um objeto afiado ou mesmo quebrar um osso. E isso pode ter consequências complicadíssimas, pois o quadro não tratado pode se agravar ou evoluir para infecções. “Em geral pessoas que sofrem desse mal morrem muito jovens, quase sempre por motivos banais como queimaduras ou pequenos ferimentos”, aponta Witzel,


A dor também pode ser sentida em casos que não há um ameaça direta ao organismo, como por exemplo, em casos de estresse, em que a pessoa pode sentir dores nas costas ou dores de cabeça. “Não é necessário alteração ou lesão no organismo para causar dor”, diz George Miguel Góes Freire, anestesiologista, acupunturista e algologista do Hospital Albert Einsten. Mas mesmo assim ela se constitui um sinal de alerta de que há algo está errado: senão no organismo, no modo de viver, sendo importante agir para mudar o contexto – buscando o equilíbrio e o bem-estar – para eliminar essa dor.



Fonte: http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2012/10/02/nunca-ignore-a-dor-ela-e-um-importante-sinal-de-alerta-do-corpo.htm 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Conheça mais sobre a dor

Introdução

“DOR - Experiência sensitiva e emocional desagradável associada ou relacionada a lesão real ou potencial dos tecidos. Cada indivíduo aprende a utilizar esse termo através das suas experiências anteriores.”
IASP- International Association for the Study of Pain


“A dor continua sendo uma das grandes preocupações da Humanidade. Desde os primórdios do ser humano, conforme sugerem alguns registros gráficos da pré-história e os vários documentos escritos ulteriormente, o homem sempre procurou esclarecer as razões que justificassem a ocorrência de dor e os procedimentos destinados a seu controle.

A expressão da dor varia não somente de um indivíduo para outro, mas também de acordo com as diferentes culturas”...

A ocorrência de dor, especialmente crônica, é crescente, talvez em decorrência de:
- novos hábitos de vida;
- maior longevidade do indivíduo;
- prolongamento de sobrevida dos doentes com afecções clínicas naturalmente fatais;
- modificações do ambiente em que vivemos; e provavelmente,
- do reconhecimento de novos quadros dolorosos e da aplicação de novos conceitos que traduzam seu significado.

Além de gerar estresses físicos e emocionais para os doentes e para os seus cuidadores, a dor é razão de fardo econômico e social para a sociedade”. (Prof. Dr. Manoel Jacobsen Teixeira – Neurocirurgião, Fac. De Medicina da USP).


Classificação

A dor pode ser considerada como um sintoma ou manifestação de uma doença ou afecção orgânica, mas também pode vir a constituir um quadro clínico mais complexo. Existem muitas maneiras de se classificar a dor. Considerando a duração da sua manifestação, ela pode ser de três tipos:

DOR AGUDA - Aquela que se manifesta transitoriamente durante um período relativamente curto, de minutos a algumas semanas, associada a lesões em tecidos ou órgãos, ocasionadas por inflamação, infecção, traumatismo ou outras causas. Normalmente desaparece quando a causa é corretamente diagnosticada e quando o tratamento recomendado pelo especialista é seguido corretamente pelo paciente.

A dor constitui-se em importante sintoma que primariamente alerta o indivíduo para a necessidade de assistência médica. Veja aqui alguns exemplos: - a dor pós-operatória (que ocorre após uma cirurgia); - a dor que ocorre após um traumatismo; - a dor durante o trabalho de parto; - a dor de dente; - as cólicas em geral, como nas situações normais (fisiológicas) do organismo que podem provocar dores agudas, como o processo da ovulação e da menstruação na mulher.

DOR CRÔNICA - Tem duração prolongada, que pode se estender de vários meses a vários anos e que está quase sempre associada a um processo de doença crônica. A dor crônica pode também pode ser conseqüência de uma lesão já previamente tratada. Exemplos: Dor ocasionada pela artrite reumatóide (inflamação das articulações), dor do paciente com câncer, dor relacionada a esforços repetitivos durante o trabalho, dor nas costas e outras.

DOR RECORRENTE - Apresenta períodos de curta duração que, no entanto, se repetem com freqüência, podendo ocorrer durante toda a vida do indivíduo, mesmo sem estar associada a um processo específico. Um exemplo clássico deste tipo de dor é a enxaqueca.


Fonte: http://www.dor.org.br/publico/intro.asp 

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED)

Regionais
AMAZONAS: Associação Amazonense Para o Estudo da Dor - AAED
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Dra.Mirlane Guimarães De Melo Cardoso
mirlane.cardoso@uol.com.br
( 92 ) 8802.4398 -
Manaus - AM
BAHIA: Sociedade Baiana Para o Estudo da Dor
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Dr. Antonio Argolo Sampaio Filho - Anestesista
aargolo5f2@ig.com.br
( 71 ) 91357638 -
Salvador - BA
CEARÁ: Sociedade Cearense Para o Estudo da Dor - SOCED
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Dra. Ines Tavares Vale e Melo
inesmelo@secrel.com.br
( 85 ) 3244-3296 -
Fortaleza - CE
DISTRITO FEDERAL: Sociedade Para o Estudo da Dor do Distrito Federal SED_DF
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Dra. Tania Regina Martins Ferreira
taniareg05@gmail.com
( 61 ) 8116-9712 -
Brasília - DF
GOIÁS: Associação Goiana Para o Estudo da Dor - AGED
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Dr. Antônio Fernando Carneiro
carn@terra.com.br
( 62 ) 9971.1808 - Dr. Antônio Carneiro
Goiânia - GO
MARANHÃO: Sociedade Maranhense Para o Estudo da Dor -SMED
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Dr. Elismar Paulo Azevedo Silva
azevedo.elismar@uol.com.br
( 98 ) 8819.4945 - 2106.2255 Hosp. Aliança -
São Luis - MA
MATO GROSSO DO SUL: Associação Sul-Mato-Grossense Para o Estudo da Dor - ASSOSMED
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Dr. Maruãn Omais
maruan01@hotmail.com,
( 67 ) 3384-0436 -
Campo Grande - MS
MATO GROSSO: Associação Matogrossense Para o Estudo da Dor - AMED
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Dra. Ana Maria Coelho Bezerra Martins
anamariamartins@terra.com.br
( 65 ) 3626-3568 -
Cuiabá - MT
MINAS GERAIS: Sociedade Mineira Para o Estudo da Dor - SOMED
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Dr. Roberto Paolinelli De Castro
rpdecastro@uol.com.br
( 31 ) 3248.3141 Hosp - 9818.7217 Cel -
B.Horizonte - MG
PARÁ: Associação Paraense Para o Estudo da Dor - ASPED
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Dr. Mauro Rodrigues Araujo
araujo431@hotmail.com
( 91 ) 9144.6204 -
Belém - PA
PARAÍBA: Sociedade Paraibana Para o Estudo da Dor - SPED-Pb
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Dr. Valdir Delmiro Neves
valdir.delmiro@terra.com.br
( 83 ) 3224-3990 -
João Pessoa - PB
PARANÁ: Sociedade Paranaense Para o Estudo da Dor - Spred
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Dr. Orlando C. G. Colhado
esperanssoli@uol.com.br
( 44 ) 3262.5238 cons. - Dr. Orlando Colhado
Maringá - PR
PERNAMBUCO: Sociedade Pernambucana Para o Estudo da Dor - SOPED
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Dr Jose Luciano Braun Filho
lbraun@terra.com.br
( 81 ) 3465-5321 Cons/ 9974.7471 -
Recife - PE
PIAUÍ: Associação Piauiense para o Estudo da Dor
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Dr. Hermes Santana Daniel Netto
hermes.d@bol.com.br
( 86 ) 9432-0952 . 8837-5017 -
Teresina - PI
RIO DE JANEIRO : Associação para o Estudo da dor do Estado do Rio de Janeiro - ADERJ
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Marco Antonio Hélio da Silva
marco@pfe.microlink.com.br
( 21 ) 9981.6126 - Dr Marco Antonio
Rio de Janeiro - RJ
RIO GRANDE DO NORTE: Sociedade Norte Riograndense Para o Estudo da Dor - SONRED
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Dr. Levi Higino Jales Júnior
ipens@supercabo.com.br
( 84 ) 9926.3932/ 3221-3758 - http://www.sonredrn.com.br/index.html
Natal - RN
RIO GRANDE DO SUL: Sociedade Gaucha Para o Estudo da Dor - SOGED
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Dr. Renato Bender Castro
renatobcastro@hotmail.com
( 51 ) 9981.1792 -
Porto Alegre - RS
SANTA CATARINA: Associação Catarinense de Estudos da Dor -ACED
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Dra. Juliana Barcellos de Souza
juliana@educaador.com
( 48 ) 9946-9700 / Clínica 3371- 3367 -
Florianópolis - SC
SÃO PAULO: Associação Paulista Para o Estudo da Dor - SPED
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Dr. Lino Lemonica
linolemonica@uol.com.br
( 14 ) 9671.0339 -
Botucatu - SP
SERGIPE: Associação Sergipana Para o Estudo da Dor - ASSOSED
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Dra. Vera Maria Silveira De Azevedo
vmsa@infonet.com.br
( 79 ) 3231-8498 -
Aracaju - SE

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Dor

Dr. João Valverde Filho é médico anestesiologista, chefe do Serviço de Tratamento de Dor do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo (SP) e membro da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor.

Na Grécia Antiga, três séculos antes de Cristo, foi fundada a Escola Estoica. O ideal de seus seguidores era viver “de acordo com a natureza”, e assumir uma atitude impassível e racional diante dos acontecimentos, fossem eles marcados pela dor ou pelo prazer. Séculos mais tarde, de acordo com os valores da cultura judaico-cristã, a dor passou a ser encarada como forma de redimir os pecados intrínsecos à espécie humana, ou como castigo pelos erros cometidos. Prova disso está nas súplicas – “A vós suplicamos gemendo e chorando neste vale de lágrimas” -, ou na ira divina ao punir a desobediência de Eva no Paraíso: “Entre dores darás à luz os filhos”. Nem os poetas escaparam dessa postura de aceitação da dor – “Ser mãe é padecer no Paraíso” –, como mal necessário a caminho da redenção.
Sob o enfoque da medicina moderna, porém, a dor é um sinal de alarme e o sofrimento que provoca além de absolutamente inútil, debilita o organismo e compromete a qualidade de vida. Mas, nem sempre se pensou assim. Durante muito tempo, as faculdades de medicina e de enfermagem não capacitaram os alunos para lidar com a dor, fosse ela aguda ou crônica, e muitos médicos estão despreparados para enfrentar esse desafio, apesar dos avanços tecnológicos e na área da farmacologia. Não estamos nos referindo aqui às dores mais leves que passam com a administração de analgésicos comuns, mas às dores agudas e crônicas, que requerem tratamento mais agressivo e especializado.
Hoje, infelizmente, a despeito de todo o progresso terapêutico, essas dores ainda não recebem a abordagem necessária e estão se transformando num problema de saúde pública no Brasil.

FISIOPATOLOGIA DA DOR

Drauzio – Em linhas gerais, você poderia explicar a fisiopatologia da dor? O que leva o organismo a manifestar a sensação dolorosa?
João Valverde Fº– A dor é um sinal de alarme do organismo. Quando se manifesta agudamente, com certeza algo de errado está ocorrendo na pele, nos músculos, nas vísceras ou no sistema nervoso central e são liberadas substâncias que ativam os nervos periféricos e centrais para conduzirem o estímulo até a medula espinhal, onde a sensação dolorosa é modulada, e de lá para o cérebro a fim de avisá-lo que, em determinado ponto, existe um problema.
Como a dor pode ser inibida na medula espinhal pela ação dessas substâncias (serotonina e endorfinas), quando uma pessoa se machuca praticando esportes ou jogando bola, por exemplo, pode não sentir nada naquele momento. A dor vem mais tarde, “quando o sangue esfriou”, dizem os leigos. Na verdade, a razão é outra: existe um sistema supressor interno que às custas das endorfinas, que são opioides endógenos, isto é, produzidos pelo próprio organismo, encarregou-se de combater a sensação dolorosa provocada pela agressão. Portanto, os remédios à base de opioides indicados para o controle da dor simplesmente amplificam esse mecanismo natural do organismo.

TRATAMENTO
Drauzio – Você não acha que culturalmente se espera que a pessoa demonstre uma atitude resignada diante do sofrimento? Lembro de um caso célebre ocorrido por volta de mil e quinhentos, na Inglaterra, com uma mulher que pediu, pelo amor de Deus, que lhe aliviassem a dor do parto. Ao voltar para casa, porém, foi presa e executada por seu gesto de não aceitação da dor durante o nascimento da criança.
João Valverde Fº – Essa atitude de aceitação passiva do sofrimento é muito comum ainda hoje, embora, em muitos casos, seja possível evitar a dor com bastante eficiência e recuperar a qualidade de vida.
Drauzio – Como você vê o tratamento da dor no Brasil?
João Valverde Fº – As faculdades de medicina e as escolas de enfermagem, por conseguinte, nunca deram a atenção necessária ao tratamento da dor, tanto da dor aguda pós-cirúrgica ou provocada por trauma, quanto da dor crônica.
No entanto, é preciso registrar que, nos últimos anos, tem ocorrido uma evolução grande no tratamento da dor, não só sob o ponto de vista farmacológico e de novos procedimentos, mas também no que se refere à forma de abordar o problema. Haja vista que vários países, inclusive o Brasil, estão empenhados numa campanha para considerar a dor como o quinto sinal vital na avaliação do paciente.
Drauzio – Quais são os outros quatro?
João Valverde Fº – A medida da pressão arterial, do pulso, da respiração e da temperatura. Os estudantes de medicina e de enfermagem aprendem a avaliar esses quatro sinais em todas as escolas e em todos os pacientes. A proposta é capacitá-los para incluir um quinto sinal, o sinal de dor, no processo rotineiro de avaliação do doente.
Drauzio – Há situações em que esse quinto sinal é mais importante do que os outros quatro. Por exemplo: um jovem acidentado pode ter níveis normais de pressão arterial, temperatura, pulso e ventilação, valores que são registrados no prontuário do hospital, na pior das hipóteses, quatro vezes por dia. No entanto, na imensa maioria das vezes, não há a menor alusão à dor que ele sente.
João Valverde Fº – Isso acontece porque a dor é muito mal avaliada e, consequentemente, mal tratada, apesar de existirem meios para controlá-la, qualquer que seja sua intensidade.
Paciente com dor leve, em geral, responde bem aos analgésicos comuns; já o paciente grave internado na UTI, com complicações generalizadas, requer uma abordagem multidisciplinar empenhada no tratamento da dor. No entanto, até dez anos atrás, era esse item que menos atenção merecia. Atualmente, ao contrário, é nele que os médicos procuram investir mais, porque sabemos que o controle ideal da dor permite alta mais precoce da UTI e, consequentemente, recuperação mais rápida da capacidade de andar, retirada da sonda nasogástrica e a ingestão de líquidos por via oral.
Está provado que o tratamento adequado da dor abrevia o período de internação.
DOR AGUDA E DOR CRÔNICA
Drauzio – As dores podem ser agudas ou crônicas. Dor aguda, muito forte, pode exigir a prescrição de um analgésico potente que não seria indicado no tratamento contínuo das dores crônicas.
João Valverde Fº – O tratamento varia conforme a intensidade da dor. As dores agudas periféricas ocorrem por excesso de nocicepção, isto é, por uma descarga de estímulos dolorosos nos nocirreceptores (terminações nervosas da dor) provocada por cirurgia, traumas ou queimaduras, por exemplo.
Dor periférica leve costuma responder bem aos anti-inflamatórios não estereoidais, associados ou não à dipirona. Já o tratamento da dor moderada demanda a associação desses medicamentos a um opioide fraco; e o da dor mais forte, o acréscimo de opioides mais potentes.
Associar de diversas classes de medicamentos possibilita utilizar menor quantidade de cada um deles durante o tratamento e reduz a manifestação dos efeitos colaterais.
Drauzio – Em geral, os doentes se impressionam com a associação de medicamentos. “Opa, estou tomando três remédios para a dor, meu fígado não vai aguentar”, é o que temem.
João Valverde Fº – Esse preconceito não tem fundamento. Na verdade, o objetivo da associação de medicamentos é aliviar a dor e diminuir os efeitos colaterais.
Por outro lado, quando a dor é forte, a utilização de apenas um anti-inflamatório não faz regredir o quadro. Não se pode esquecer de que os anti-inflamatórios não estereoidais têm um efeito teto. A partir de determinada dose, não aumentam a analgesia, ou seja, não mais ajudam a aliviar a dor. Além disso, em doses muito altas, provocam efeitos colaterais indesejáveis no aparelho digestivo, nos rins, etc.
Drauzio – Você tocou num ponto muito importante.  Embora evitemos sempre qualquer alusão á marca comercial dos medicamentos, neste caso é necessário abrir uma exceção. Anti-inflamatórios comuns, como Voltaren, Indocid, Naprosyn e tantos outros, têm um efeito teto. Portanto, a partir de determinada dose, não tiram mais a dor. Se ela não passou com uma ampola injetável, não é com duas ou três que vai passar.
João Valverde Fº – Por isso, associa-se ao anti-inflamatório um opioide fraco, quando a dor é moderada, e um opioide forte, quando é intensa.
PRESCRIÇÃO DE OPIOIDES

Drauzio – Opióides são substâncias sintéticas com grande efeito analgésico, como é o caso da morfina. Embora seja usada desde o tempo dos faraós, milhares de anos antes de Cristo, sua indicação ainda está cercada de preconceito. Na sua opinião, o que justifica esse preconceito?
João Valverde Fº – O preconceito é antigo e encontra eco até nas faculdades de medicina, que não ensinam como utilizar a morfina nem como avaliar seu benefício no tratamento da dor forte. Para ter uma ideia, no Brasil, a neperidina, também conhecida como dolantina, reinou praticamente sozinha por muitos e muitos anos. Hoje se sabe que esse fármaco não é melhor nem pior do que vários outros opioides de alta qualidade e segurança desenvolvidos com tecnologia de primeira linha. Como não se conhecia a forma de administrar esses medicamentos nem de avaliar sua eficácia no alívio da dor, eles só eram prescritos para pacientes terminais.
Outro falso julgamento é a suposição de que é enorme o potencial de a morfina desenvolver dependência nos pacientes.
Drauzio – O que não é verdade…
João Valverde Fº – Tanto não é verdade que os opioides podem ser ministrados com segurança também para pacientes não oncológicos, desde que sejam bem avaliados e controlados pelo médico.

Drauzio – Minha experiência mostra que, quando prescrevemos morfina para um doente com dores fortes, a primeira reação da família é imaginar que ele entrou em fase terminal, o que é um tremendo engano. Pessoalmente, indico a morfina porque não existe nenhum analgésico mais eficaz do que ela.
João Valverde Fº – Além dessa propriedade, a morfina tem a vantagem de não apresentar efeito teto. À medida que se aumentam as doses, cresce seu poder de analgesia. Se o paciente apresentar certa disforia com determinada classe do medicamento, por exemplo, troca-se de classe ou associam-se outros analgésicos e esse efeito colateral é contornado.
Drauzio – Os efeitos colaterais mais importantes da morfina são boca seca, prisão de ventre e, às vezes, um pouco de sonolência, nada que se compare ao sofrimento causado por uma dor forte.
João Valverde Fº – Exceção feita à obstipação intestinal, que se manifesta mais nas mulheres do que nos homens, esses efeitos colaterais desaparecem durante a utilização da morfina, porque a pessoa desenvolve tolerância ao medicamento. Acima de tudo, é melhor tratar o intestino preso do que deixar o paciente sofrendo com dores fortes.
Drauzio – O fato de a morfina não apresentar efeito teto é de extrema importância no tratamento da dor, porque sempre existe uma dose capaz de aliviar o sofrimento.
João Valverde Fº – Há sempre uma dose, mas é preciso saber avaliar o paciente que apresenta dor crônica ou muito forte para instituir o tratamento, que é interdisciplinar e multidisciplinar. São várias as áreas da medicina – neurologia, neurocirurgia, fisiatria, enfermagem, psiquiatria – que podem interagir nesse sentido.
DESPREPARO PROFISSIONAL

Drauzio – Não parece estranho que os médicos cujas especialidades estão intimamente ligadas ao processo de dor estejam despreparados para instituir um tratamento eficaz? Olhe, anos atrás, passei por uma cirurgia e acordei com uma dor tremenda. Chamei a enfermeira que me aplicou uma injeção que não fez o menor efeito. Quando a chamei de novo, quis saber o nome do medicamento. “Mas, isso não vai tirar a dor forte que estou sentindo” e pedi que chamasse o anestesista de plantão, que me medicou adequadamente. O problema é que durante mais de uma hora, sofri desnecessariamente. Pensei, então: “Se eu, que sou médico, passei por isso no lugar onde trabalho, quantas pessoas não suportam dores fortíssimas, sem atendimento adequado nos hospitais públicos e privados do Brasil inteiro?”.
João Valverde Fº – Por isso, no mundo inteiro, inclusive no nosso país, estão sendo instituídos serviços especializados no tratamento da dor pós-operatória. É comum o cirurgião prescrever subdoses de analgésicos para serem ministradas “se necessárias”. Quando se verifica que elas não surtiram o efeito desejado, está provado que a equipe de enfermagem leva – veja bem, nos lugares em que o atendimento é bom – aproximadamente 45 minutos para conseguir entrar em contato com o médico, preparar a medicação e administrá-la ao paciente. Isso significa que, quando recebe o medicamento, a intensidade da dor aumentou tanto que a dose aplicada será insuficiente para surtir efeito. Assim, a situação se agrava e a conduta terapêutica se torna cada vez mais ineficaz.
Drauzio – Essa é a situação de rotina nos hospitais brasileiros?
João Valverde Fº – É uma rotina que felizmente está terminando nos hospitais brasileiros com a formação dos serviços de dor que promovem a avaliação constante dos pacientes e prescrevem analgésicos de uso regular e não apenas “se necessários” para diminuir o sofrimento.
Drauzio – Como a dor é previsível em certos casos, os analgésicos devem ser administrados antes de o paciente solicitar…
João Valverde Fº – Todos sabemos que as dores pós-operatórias são previsíveis e tendem a diminuir durante o período de internação, porque a ferida vai cicatrizando. Por isso, os analgésicos são prescritos regularmente, mas a dosagem varia de acordo com as características do sintoma.
Ao contrário, no paciente oncológico com compressão tumoral, por exemplo, a tendência é a dor ficar cada vez mais forte e a medicação precisa ser mantida, às vezes, com doses mais elevadas. Portanto, a avaliação exata do quadro de dor é de extrema importância na escolha da abordagem terapêutica.
Profissionais da saúde do mundo inteiro estão discutindo quais as formas adequadas de tratar esses dois tipos de pacientes a fim de proporcionar-lhes conforto efetivo e melhor qualidade de vida. Quando digo profissionais de saúde, estou me referindo também ao corpo de enfermagem que precisa saber avaliá-los para informar os médicos a fim de que prescrevam a droga certa para cada caso.
HORA DO REMÉDIO

Drauzio – Como deve ser administrado o analgésico?
João Valverde Fº – O habitual é o esquema SOS, ou seja, o analgésico só é administrado se o paciente solicitar. Ora, se a dor é um sintoma previsível nas pessoas que passam por cirurgia, por causa da reação inflamatória, do edema e da compressão de nervos responsáveis pela produção de substâncias algogênicas que provocam sensações dolorosas, os medicamentos devem ser ministrados antes que a dor se instale ou aumente de intensidade. Essa técnica terapêutica é conhecida como analgesia preemptiva e tem importância fundamental no pós-operatório para que a dor aguda não se transforme, mais tarde, numa dor crônica intratável. Por isso, os analgésicos devem ser administrados antes, durante e depois da operação.
Drauzio – Qual a dose de analgésico necessária para controlar a dor antes e depois de sua instalação. Pergunto isso, porque muitas pessoas se recusam a tomar o remédio antes de sentir dor.
João Valverde Fº – O tempo de ação no organismo dos anti-inflamatórios não esteroidais têm de ser observado para garantir seu efeito analgésico. O diclofenaco, por exemplo, deve ser administrado a cada seis ou oito horas. Já o tenoxicam, um anti-inflamatório de longa duração, pode ser tomado uma vez por dia. Quando se faz necessário utilizar um opioide fraco, como é a codeína associada ao paracetamol, o intervalo entre uma tomada e outra pode ser de quatro horas.
Duas classes mais modernas desses medicamentos – o rofecoxib e o colecoxib -, que são mais fisiológicos do que os outros anti-inflamatórios, provocam menos efeitos colaterais e também podem ser administrados uma única vez por dia.
Os opioides são fáceis de ministrar. No início se estabelece uma dose eficaz de morfina de liberação rápida. Depois, entra em cena a administração cronoprogramada, dividida em duas doses, uma de manhã e a outra à noite.
Drauzio – Vamos pegar como exemplo a dor de cabeça. Não é raro encontrar pessoas que estão com dor de cabeça há horas e não tomam analgésicos porque têm a esperança de que ela desapareça espontaneamente. O argumento é que temem desenvolver tolerância e não possam contar com eles se, por ventura, a dor ficar mais forte. O que você pensa a respeito dessa estratégia?
João Valverde Fº – Toda e qualquer dor exige que seja estabelecido um diagnóstico. Dele depende a condução de um tratamento eficaz.
Agora, se a dor de cabeça apareceu de repente, o melhor é tomar um analgésico já utilizado em outras ocasiões, o mais depressa possível, para evitar que fique mais forte. Se isso acontecer, será mais difícil estabelecer o tratamento.
Entretanto, se as crises forem diárias ou se repetirem com frequência, a pessoa pode desenvolver resistência aos medicamentos de uso rotineiro e precisar de doses cada vez mais altas. Isso é absolutamente comum e normal acontecer. Para evitar a tolerância, por exemplo, os pediatras recomendam para a criança com febre que as doses de dipirona sejam intercaladas com doses de paracetamol. Assim como eles propõem a alternância de uso desses dois medicamentos eficazes para baixar a febre, podemos fazer o mesmo ou associar medicamentos para controlar os episódios de dor e evitar que a pessoa desenvolva tolerância.
ACUPUNTURA
Drauzio – A acupuntura é utilizada com frequência para controle da dor. Não tive formação nessa área e, às vezes, me perco ao observar que alguns pacientes se beneficiam com as sessões de acupuntura, enquanto outros não conseguem melhora alguma. O que sua experiência pessoal diz a respeito da acupuntura para controle da dor?
João Valverde Fº - Atualmente, a acupuntura é uma disciplina que compõe o currículo das faculdades de medicina. Sua utilização cresceu muito nos últimos anos em função também do desenvolvimento da neurobiologia, ou seja, da compreensão maior do mecanismo da dor.
Como já mencionei, considero que o tratamento da dor requer abordagem multidisciplinar e interdisciplinar. Sob essa perspectiva, a acupuntura tem seu lugar e apresenta bons resultados em muitos casos. Para tanto, o acupunturista precisa associar o conhecimento da neurobiologia da dor aos da acupuntura para executar o procedimento eficiente.
Drauzio – Apesar da desproporção entre o número de pessoas com dor crônica tratadas com acupuntura e o número de trabalhos de caráter científico produzidos pelos especialistas na área, não se discute o papel que ela tem no tratamento da dor. Há até uma explicação neurobiológica sobre a liberação de mediadores que vão interferir no mecanismo de condução da dor, quando as agulhas são introduzidas em determinados pontos do organismo. Minha dificuldade é entender como uma agulha enfiada no pé, por exemplo, ajuda a melhorar o funcionamento do determinado órgão, uma vez que isso é posto quase como religião, sem nenhuma comprovação científica. Na sua experiência pessoal, a acupuntura funciona para aliviar que tipo de dor?
João Valverde Fº – A acupuntura tem ajudado muitos pacientes com dores musculares, miofaciais e com alguns tipos de dor na coluna.
MEMÓRIA DA DOR
Drauzio – Quais são os problemas mais freqüentes que os pacientes com dores crônicas enfrentam?
João Valverde Fº – O primeiro problema talvez seja o custo do tratamento, que é longo, demorado. Depois, vem a aderência às diversas classes de medicamentos que, muitas vezes, o paciente com dor crônica precisa tomar. Por exemplo, ele estranha a prescrição de antidepressivos ou anticonvulsivantes, e deixa de lado esses remédios que vão funcionar como analgésicos naquele caso. Um recurso para convencê-lo do contrário é explicar-lhe que a dor crônica passa pelo estabelecimento de uma memória de dor. Ou seja, o fato de ter sentido dor intensa por vários meses ou anos ajudou-o a elaborar uma memória de dor na medula espinhal, que o tornou mais susceptível e sensibilizado à cronicidade das sensações dolorosas. Quando ele entende que é preciso apagar essa memória para fazer com que o sistema nervoso volte a funcionar como antes, fica mais fácil manter a aderência ao tratamento.
Drauzio – Esse mecanismo de memória de dor é evidente nas pessoas que sentem dor nos membros amputados.
João Valverde – É verdade. Pacientes que tiveram os membros amputados podem desenvolver uma dor fantasma no membro que não existe mais. É como se sentissem coceira ou uma fisgada no dedão do pé depois de terem amputado a perna. O curioso é que, num passado recente, muitos foram internados em hospitais psiquiátricos porque não se dominava o conhecimento sobre a origem da dor. Atualmente, isso não mais acontece. Eles são tratados e desfrutam de boa qualidade de vida.
ATENDIMENTO NO BRASIL

Drauzio – Existem médicos em número suficiente para tratar dos casos de dor adequadamente no nosso País?
João Valverde Fº – Conforme mostram os simpósios e congressos sobre o assunto e a Associação Internacional do Estudo da Dor, o número de médicos envolvidos com o tratamento da dor é cada vez maior, embora ainda seja insuficiente. Dentre eles, tanto no Brasil quanto nos outros paises do mundo, destacam-se em primeiro lugar os anestesiologistas seguidos pelos cirurgiões e neurologistas. Esses médicos são atuantes e acompanham o desenvolvimento de drogas de ação prolongada e com menos efeitos colaterais que podem ser muito úteis no tratamento da dor, mas é preciso que todos os outros se envolvam e busquem formas de evitar que os pacientes sofram desnecessariamente.