sábado, 20 de agosto de 2016

Parte da minha história

No dia 04 de abril de 2003, sofri trauma no tendão de Aquiles em um acidente de trabalho. Mas, foi confirmada a lesão só 4 meses depois, tempo esse que trabalhei, tinha dificuldades para caminhar e muita dor. Fui submetida à ráfia de tendão 7 meses após o trauma inicial, contrai uma grave infecção e depois de 5 cirurgias em Tubarão-SC com complicações, houve necrose. 

Familiares e amigos indicaram procurar tratamento em Curitiba-PR. Foi lá que encontrei o Dr. Rogério Bittencourt (Cirurgião Plástico) e o Dr. Sidney Silva de Paula (Ortopedista), que em conjunto realizaram grande procedimento cirúrgico (sexta cirurgia em abril de 2004) e conseguiram debelar o quadro infeccioso e restaurar parte do tendão destruído.

Infelizmente, existem as seqüelas quando sofremos grandes traumas e comigo não foi diferente. A dor só aumentou após a sexta cirurgia mesmo não existindo nenhuma lesão, pois estava tudo cicratizado. A dor e outros sintomas como edema, dormência no pé, sensação de queimação intensa principalmente no pé, alguns episódios de dor tipo descarga elétrica e todo quadro clinico foi constatado diagnostico de Síndrome Dolorosa Complexa Regional Tipo I.

Em outubro de 2004 comecei a ser acompanha também pelo meu atual médico o Dr. Alexandre Novicki Francisco que confirmou o diagnostico de Síndrome Dolorosa Complexa Regional Tipo I que tem como principal sintoma a dor crônica (CID M89.0 + R52.1 - Dor crônica intratável). A partir daí fui submetida a todos os esquemas possíveis para tratamento medicamentoso. Fazia fisioterapia regularmente, acupuntura e tantas outras coisas que me orientavam.

Em março de 2005, fui submetida a bloqueio neurolitico de plexo simpático lombar e obtive melhora de alguns sintomas menos em relação à dor que continuava muito intensa e tomando toda perna esquerda. O Dr. Alexandre Novicki Francisco trocava as medicações, aumentava as doses, tentava sempre vários esquemas e nada funcionava, além disso, tive alergias com varias medicações, efeitos colaterais terríveis.

Durante todo ano de 2006, as dores continuaram muito intensas apesar de toda medicação que eu fazia uso, então o Dr. Sidney Silva de Paula (Ortopedista) me indicou a exploração cirúrgica no local do trauma para ressecção de eventual neuroma, mas não concordei pelo porte da cirurgia e também porque o Dr. Sidney Silva de Paula (Ortopedista) me informou que a melhora em relação à dor era extremamente questionável.

A partir de janeiro de 2007, comecei a apresentar movimentos involuntários distonicos no pé, com alguns espasmos de maior amplitude em todo o pé.  O Dr. Alexandre Novicki Francisco solicitou avaliação neuro-psicologica e concluiu-se eu ser boa canditada para implante de eletrodo para estimulação epidural medular lombar.  Fiz uma cintilografia em abril de 2007, que mostrou sinais de rarefação óssea avançada no pé D, que corroborava para o diagnostico de Síndrome Dolorosa Complexa Regional Tipo I, confirmando o porque da refratariedade de todo e qualquer tipo de tratamento.

A partir dessa indicação procurei me informar sobre o procedimento na internet. Meus familiares, amigos pediam para que eu procurasse outros profissionais para uma segunda opinião. Sempre confiei e confio nos meus médicos. Por causa dos pedidos estive em São Paulo-SP, Porto Alegre-RS, Florianópolis-SC, Rio de Janeiro-RJ nesta ordem, todos os médicos que consultei foram unanimes para o mesmo diagnostico e indicação para o implante de eletrodo para estimulação epidural medular lombar.

No dia 28 de setembro de 2011 fui submetida a colocação cirúrgica de um eletrodo de neuroestimulação na medula, próximo à região que controla a dor dos pés, na região torácica. Um pequeno gerador foi implantado na região glútea que, conectado ao eletrodo, transmiti os impulsos elétricos para a medula, após a cirurgia já apresentei melhora de 80% da dor.

Este é apenas um pequeno resumo da minha longa caminhada de luta de mais de 8 anos contra Sindrome Dolorosa Complexa Regional, que graças a Deus, ao meu médico Dr. Alexandre Novicki Francisco, minha família e todas as pessoas que hoje fazem parte da minha vida teve um final muito feliz.

Reportagem Jornal no Ponto - Jovem realiza cirurgia e sente-se realizada
O que para muitos são casualidades do dia-a-dia, como abrir a porta de casa, para Márcia Pereira, 26 anos, uma tarefa quase impossível. Impossibilitada de andar devido a um acidente da trabalho, a jovem, hoje, comemora o sucesso da luta para realização da cirurgia que lhe trouxe de volta a esperança e a oportunidade de uma nova vida. 
O Jornal No Ponto retratou está história que começou a mais de oito anos e que, agora, recebe o desfecho esperado por todos que acompanharam e contribuíram com a batalha de Márcia e de sua família. 

Após o acidente de trabalho que lesionou gravemente seu tendão de Aquiles, Márcia realizou sete cirurgias. Desde a tentativa frustrada de reconstrução do tendão, lesionado em 80%, até operações que há deixaram seis meses em cadeira de rodas. Em uma última cirurgia até então, Márcia retirou totalmente o tendão, eliminando suas esperanças de um dia voltar a andar. 
A base de fortes remédios para conter a dor que durava 24horas, como a morfina, Márcia e sua família buscaram especialistas de todo país, onde muitos deles, devido à complexidade do caso, recusaram efetuar algum tipo de tratamento na jovem. 

Em Curitiba, Paraná, a família encontrou o médico Alexandre Novicki Francisco, chefe do serviço de Neurocirurgia do Hospital Universitário da PUC, que trata do caso de Márcia desde 2004. Alexandre constatou que a paciente sofria de uma Síndrome Dolorosa Complexa regional, uma doença rara e que tem como principal sintoma a dor crônica. Para tentar eliminar ou reduzir os sintomas da síndrome, foi indicada a Márcia a realização de uma oitava cirurgia. Essa, para a implantação de um neuroestimulador medular.  “Com o implante podemos tratar doenças onde o funcionamento do sistema nervoso esteja comprometido, como observamos em casos de dor crônica, desordens do movimento (doença de Parkinson e distonia), epilepsia, espasticidade e distúrbios psiquiátricos. O uso de neuroestimuladores é o método mais moderno no tratamento destas enfermidades, consistindo no implante de dispositivos na medula e no cérebro, que através da estimulação elétrica ou infusão de medicamentos diretamente nestas estruturas, equilibra o funcionamento do sistema nervoso central ou periférico, tratando de maneira efetiva”, explica o especialista. 
Outra vantagem do método é sua total reversibilidade e ajustabilidade de acordo com as necessidades do paciente, evitando os riscos de uma cirurgia tradicional, onde são lesadas, de maneira controlada, estruturas do sistema nervoso. 

Para realizar a cirurgia, Márcia teve de levantar pouco mais de R$100 mil, já que este tipo de método não possui cobertura do Sistema Único de Saúde, SUS. Com o apoio da Rádio Verde Vale, a família realizou uma rifa e arrecadou parte do dinheiro necessário para a cirurgia. Além de doações da comunidade, Márcia contou com o importante apoio e compreensão do Deputado Estadual, José Nei Ascari. Graças à união dessas forças, Márcia realizou este mês, a cirurgia. 

Apesar das chances de uma recuperação total ser de apenas 50%, a jovem nunca perdeu as esperanças e comemora a sua total recuperação após a intervenção. “Conseguir essa cirurgia foi algo imensurável. Um feito tão grande, que hoje não me permito sonhar com menos. Meus planos daqui para frente, também são grandes. Depois do período de recuperação, pretendo realizar sonhos antigos, antes impossíveis. Como voltar a minha vida em sociedade, participando das iniciativas comunitárias e realizando o sonho da graduação. Pretendo me formar na área de Biomedicina”, revela a jovem. 

Apesar de ter de tomar alguns cuidados importantes, como evitar os efeitos de equipamentos de que transmitam ondas magnéticas, Márcia segue vida nova, valorizando as pequenas coisas. “Hoje, me sinto realizada em fazer pequenas coisas, corriqueiras ao dia-a-dia, mas que quando algo nos impede de realizar fazem diferença. Como abrir a porta de casa sem ajuda, e ter uma das mãos livres para me servir”, conta emocionada.



sábado, 28 de dezembro de 2013

Elliot Krane: O mistério da dor crônica

Nós pensamos na dor como um sintoma, mas há casos em que o sistema nervoso desenvolve uma realimentação e a dor se torna uma terrível doença em si mesmo. A partir da história de uma garota cuja torção do pulso se tornou um pesadelo, Elliot Krane fala sobre o complexo mistério da dor crônica, e revisa os fatos que estamos aprendendo sobre seu funcionamento e como tratá-la.






Fonte: http://www.semiologiaortopedica.com.br/2012/03/elliot-krane-o-misterio-da-dor-cronica.html

Pacientes com dor crônica – O que eles têm em comum?

A dor acompanha a história da humanidade, é uma marca do que significa ser humano. 
Todo mundo já sentiu algum tipo de dor, mas nenhum de nós sabe quando chegará ou por quanto tempo nos acompanhará. Em geral, a dor cede. Mas e a dor que persiste?
Normalmente, a dor é protetora: um sistema instalado para alertar o corpo de que algo não vai bem. Quando o tecido sara, a dor some. Entretanto, quando ela persiste muito tempo depois de cumprida a sua função, se transforma na patologia da dor crônica – uma dor que só piora com o tempo.
A sensação do corpo como fonte de prazer muda para a sensação do corpo como fonte de dor. A pessoa se sente perseguida. A dor crônica é um fantasma do nosso tempo: uma doença grave, - doença dor crônica mal entendida e mal diagnosticada.
O Dr. Elliot Krane, anestesiologista pediátrico dos EUA, proferiu em 2011 uma conferência dizendo que em 10% das condições tumorais, inflamatórias, infecciosas e pós-operatórias a dor persiste por meses ou anos transformando-se na própria doença.
Nós pensamos na dor como um sintoma, mas há casos em que o sistema nervoso desenvolve uma realimentação e a dor se torna uma terrível doença em si mesmo.
De acordo com a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP), uma em cada cinco pessoas sofre de dor crônica, o que afeta radicalmente a rotina e a qualidade de vida do indivíduo.
Veja também a classificação da dor crônica – 2ª edição da International Association for the Study of Pain.
A medicina clínica nos ensina que pacientes mesmo aqueles com problemas médicos semelhantes, variam amplamente em sua resposta à doença e muitas vezes necessitam de tratamento diversificado.
Não obstante essa experiência clínica, que reforça a crença na “diferença entre os indivíduos”, ficamos impressionados com as semelhanças que existem entre os pacientes de dor crônica.
Uma observação mais detida e um estudo dessas semelhanças nos conduzem a uma fórmula básica comum na avaliação dos pacientes de dor crônica: eles se apresentam como caricaturas de pacientes agudos, com as preocupações, comportamentos e urgência de atendimento que seriam apropriados ao pacientes agudo.
A confusão entre pacientes crônicos e agudos, tanto por parte do paciente como do médico, provoca frustração e desapontamento em quem trata desses pacientes. No entanto, na avaliação clínica de mais de 300 pacientes de dor crônica, observamos alguns dados comuns:
- Todos, por exemplo, tinham dor com meses e anos de duração.
- A maioria indicou que sua dor atual era parecida com a que se manifestara no início da doença, que geralmente estava associada a algum problema médico agudo ou ainda a algum acidente, mas que piorou depois de várias tentativas frustradas de tratamento médico ou cirúrgico.
- Todos forneciam uma história médica detalhada das falhas de tratamento, muitas vezes com grande satisfação.
- Todos já haviam tentado muitos medicamentos, e a maioria era dependente de narcóticos. Continuavam a tomar seus analgésicos e tranquilizantes, apesar de eles mesmos afirmarem que a medicação não produzia alívio em longo prazo, comentando que continuavam a tomá-la apenas “para amortecer a dor”.

  • Opióide (narcótico) 
  • Não-opióide (não-narcótico)
  • Acetaminofen (Tylenol®) 
  • Anti-inflamatório não esteróide (AINES)
  • Anti-inflamatório esteroidal
  • Antiepiléptico (anticonvulsivante)
  • Antidepressivo e ansiolítico 
  • Relaxante muscular (antiespasmódicos)
  • Hipnóticos (relaxantes do sono)
  • Anticonvulsivantes (gabapentina)
  • Agentes tópicos
- Todos apresentavam seu problema de dor como urgente ou até como casos de emergência.
Descreviam a dor como insuportável e incapacitante.
- Eles concordavam, em sua maioria, a se submeter a qualquer tratamento capaz de tirar-lhes a dor, acreditando que esta tinha uma causa orgânica até então desconhecida.
- Finalmente, muitos afirmavam não ter nenhum outro problema e que estaria tudo bem se o doutor tratasse sua dor. Se indagados a respeito de uma possível depressão ou problema pessoal, familiar ou outros, colocavam-se na defensiva, admitindo, no máximo, que esses outros problemas seriam consequentes à dor.
As atividades diárias desses pacientes estavam organizadas em torno da dor e definidas por ela. A dor explica todas as dificuldades na vida do paciente.
O exame físico e novo questionamento geralmente levam o examinador à conclusão de que a narrativa da dor é exagerada em face dos achados do exame, mostrando assim que os fatores emocionais contribuem consideravelmente na percepção da dor.
A presença desses dados nas histórias de tantos pacientes nos permite traçar um perfil do paciente de dor crônica, no qual predominam os seguintes traços:
- Presença de um tipo de dor para o qual o tratamento médico é incapaz de oferecer uma razoável esperança de cura.
- Falta de alívio por medicamentos e frequente depressão, dependência medicamentosa, diminuição na capacidade de funcionar normalmente como consequência do excesso de medicação.
- Incapacidade física acima da que seria de esperar pelo exame físico.
- Contribuição de fatores psicológicos e sociais que reforçam e perpetuam o comportamento doloroso. Os portadores de Ler/Dort estão expostos aos fatores de risco biológicos e aos fatores de risco psicossociais para as condições neuromusculoesqueléticas com dor crônica que os afetam no mundo do trabalho.
- Supervalorização da dor, ou seja, a dor representa o papel central nas suas relações consigo mesmo e com os outros.
- Manipulação bem sucedida de outras pessoas, como sua história revela, muitas vezes induzindo o médico a tentar intervenções terapêuticas, ou até mesmo cirúrgicas, sem indicação precisa.
- Presença frequente de outra doença, não relacionada com a dor, mas que pode estar perdida entre as queixas do paciente, concentradas na dor.
A história e sua apresentação são impregnadas de um sentido de urgência, reafirmação de angústia, sofrimento e incapacidade, além da esperança de que finalmente será especificada uma doença, a fim de ser instituído um tratamento definitivo.
Embora esse comportamento e essa esperança sejam compreensíveis em pacientes com doença aguda ou traumatismo, eles não são apropriados num problema que é obviamente crônico.
Essa incongruência entre expectativas e possível resultado real mostra claramente que o primeiro passo no tratamento construtivo desses pacientes deve ser o de retirar deles a expectativa arraigada do tratamento condicionado a cura, com o na experiência da doença aguda. O próprio paciente não é o único responsável por suas esperanças irreais.
O treinamento e a orientação terapêutica da maioria dos médicos, acostumados a ver doentes agudos, reforçam sua esperança de cura e, no caso da maioria dos doentes de dor crônica, sancionam seu papel de doentes crônicos. Acreditamos que não se pode conseguir sucesso no controle da dor crônica enquanto o paciente e o médico que o trata não chegarem a um acordo e trocarem a meta de alívio da dor pela de reabilitação.
Afirmamos que esses perfis de pacientes são um epifenômeno da assunção de uma doença aguda em bases crônicas. A dispensa temporária de responsabilidades, com regressão e dependência consequentes, pode ajudar o paciente a aceitar as recomendações de seu médico. No entanto, a ocupação prolongada da função de doente (e devemos lembrar que muitos de nossos pacientes já representam esse papel há anos) produz uma distorção da função “normal” do doente.
Se observarmos o comportamento do paciente de dor crônica à luz do que é esperado do paciente com doença aguda, torna-se óbvia uma série de distorções:

A. O paciente com doença aguda deve procurar auxílio médico.
Uma longa história de contatos médicos repetidos e as falhas da terapia relatadas pelo paciente de dor crônica são uma consequência da sua obrigação de, como todo doente, procurar auxílio médico. A expectativa social implícita é a de que, uma vez tenha encontrado auxílio médico, o paciente ficará curado.
Se não se cura, o paciente de dor crônica continua a procurar auxílio médico, até que sua própria busca se torne sua maior preocupação. A recomendação do paciente de um médico para outro é interpretada como uma forma de rejeição. Sob o ponto de vista do paciente, o médico que o envia a outro não está cumprindo com sua obrigação profissional.
Um caso ilustrativo de como o ato de procurar auxílio se tornou mais importante do que o acidente inicial é o de um paciente cuja dor se iniciou com uma pequena intervenção para uma lesão do tornozelo. A operação não produziu os resultados esperados, e assim foi realizada uma segunda. Muitas outras se seguiram, em pouco tempo, levando a uma incapacidade total, dependência de narcóticos e regressão acentuada. Somente 15 anos depois é que o paciente, ao ser enviado para uma avaliação especializada, foi finalmente rotulado portador de dor crônica, na verdade portador de “doença dor crônica.”
A família do paciente muitas vezes participa ativamente nessa busca. O comportamento do paciente e de sua família está perfeitamente ajustado para o que se espera de um indivíduo com doença aguda. É compreensível, assim, seu desapontamento pela não realização de suas esperanças dentro do padrão de referência da doença aguda. A razão dessa frustração (tanto do médico como do paciente) é um erro na identificação do problema, considerado como agudo.

B. Espera-se do paciente que coopere com o médico.
O paciente de dor crônica geralmente se propõe a, voluntariamente, fazer qualquer coisa que o médico sugira que possa aliviar sua dor. Essa atitude reflete um entendimento implícito de que, se o paciente “faz a sua parte”, isto é, coopera com o médico, este também conseguirá “fazer a sua” e curar a dor. Nos doentes de dor crônica essa cooperação leva muitas vezes a um abuso de drogas e à polifarmácia.
Os pacientes ignoram a hepatite medicamentosa entre outras possíveis intercorrências.
Num estudo comparativo de pacientes de dor crônica submetidos a múltiplas cirurgias com um grupo-controle de pacientes psiquiátricos, verificou-se que os pacientes de dor crônica estavam recebendo quatro vezes mais medicamentos, especialmente narcóticos, analgésicos e tranquilizantes menores. E, mais importante ainda, o estudo mostrou que, de acordo com os pacientes, a medicação não estava sendo muito eficaz.
Perguntados por que insistiam em tomar medicamentos cuja ação não era satisfatória, a maioria dos pacientes de dor crônica respondeu: “É porque o meu médico me mandou tomar”, ou então “Tenho de tomar alguma coisa para a dor”. O simples ato de tomar um remédio era mais significativo por conferir ao paciente o status de “doente” e de “necessita de tratamento” do que como medida paliativa.

C. Espera-se do paciente que deseje se curar.
Apesar da evidente regressão, da incapacidade exagerada e do uso excessivo de drogas, o paciente de dor crônica insiste que quer voltar a trabalhar e reassumir suas responsabilidades. Essas esperanças são comumente expressas na seguinte forma: “Assim que o doutor me curar, deixando-me igual ao que eu era antes de tudo isso acontecer, estarei pronto a reiniciar de onde parei.”
Esse tipo de afirmativa serve para negar qualquer outro problema que possa bloquear a volta ao trabalho e a reaceitação de responsabilidades. Nega também a possibilidade de que o paciente não consiga voltar à sua forma anterior ou readquirir o uso da parte afetada pela dor. O paciente continua a conceituar o problema como doença aguda, que necessita apenas ser identificada para que ele possa ser “curado” e voltar a ser o que era. Essa imagem do que era, muitas vezes, refere-se a 10, 15 ou 20 anos antes.
Também a família compartilha das esperanças do paciente por uma cura completa, bem como na procura do médico capaz de consegui-la. Grande parte das frustrações dos que cuidam do paciente crônico vem exatamente dessa esperança de eventual tratamento definitivo.

D. É privilégio do doente ver-se livre de responsabilidades sociais.
A pessoa declarada doente por um médico é aliviada de suas responsabilidades como esposo(a), progenitor(a), e de obtenção da renda familiar, passando a ser atendida pelos demais. Não é de se surpreender, quando essa isenção é prolongada, que o paciente se torne cada vez menos capaz de reassumir suas responsabilidades anteriores. 
A inatividade e o uso excessivo de drogas levam a uma deterioração de seu estado geral, que, juntamente com o fato de ser alvo de cuidados e aliviado de responsabilidades, intensifica ainda mais a regressão. Em pouco tempo, pode se tornar incapaz de resolver até mesmo os problemas do dia-a-dia.
O papel de doente é a única sanção aceitável socialmente para uma volta à infância. Sanciona a permissão de fugir às responsabilidades, de receber atenção e desfrutar de outras recompensas por estar doente – é o que se denomina ganho secundário, e representa uma variável importante na recuperação do paciente ou na falha da recuperação. Achamos, ainda, que muitos pacientes se adaptam muito rapidamente à função de “doente” porque estão mal preparados para assumir suas responsabilidades como adulto.  Quando a doença resolve uma situação conflitiva do paciente e sua inabilidade de assumir responsabilidades adultas, sancionando sua isenção, isto representa um ganho primário.
Podem existir outros incentivos externos para a não recuperação, como por exemplo uma aposentadoria precoce, uma licença prolongada, uma compensação por danos sofridos, muitas vezes à espera de decisão judicial, que devem ser evidenciados quando da avaliação do paciente. Temos visto pacientes particularmente relutantes em cooperar com os esforços para sua reabilitação quando uma ação pendente ou a aposentadoria requerida poderiam ser prejudicadas pela sua melhora.

E. O doente tem necessidade de receber cuidados.
O direito de receber cuidados e se tornar mais infantil são um privilégio da função de doente agudo. Como ganho secundário e contribuindo para uma maior incapacidade física, a regressão, entretanto, é contraproducente no paciente de doença crônica.
Quando alguém recebe o diagnóstico de doente, seus familiares são designados como curadores e dividem as responsabilidades anteriores do doente. A evolução dos curadores a partir dos membros da família muitas vezes segue um caminho comum. Primeiro a família fica preocupada e desarmada, e sacrifica conscientemente a rotina normal para confortar e aliviar o paciente.
Quando, porém, o papel do doente é prolongado, os familiares se frustram e se ressentem do longo sacrifício, ou então desenvolvem um ajustamento mais confortável, no qual o paciente é tratado como criança.
O cônjuge do paciente com dor crônica insiste em estar presente durante todos os exames, muitas vezes fala em lugar do paciente, e de todo o modo se comporta como progenitor de uma criança pequena. Os pacientes podem apresentar uma regressão tão completa, a ponto de se tornarem inteiramente dependentes do cônjuge, agindo como crianças nas mais simples tarefas. O trabalho com os familiares, a fim de desencorajar esse comportamento regressivo e reforçar o comportamento para uma reabilitação, é uma das intervenções terapêuticas mais importantes nesses casos. Também a regressão psicológica é um fator importante na incapacidade do paciente de dor crônica.
A regressão é uma resposta esperada na doença aguda. Em pacientes comuns, esse retorno a um estado infantil manifesta-se geralmente por um aumento do egocentrismo, uma diminuição do quadro de interesses, preocupação com as sensações do corpo, aumento notável da dependência de outras pessoas e muitas vezes uma manipulação constante e insistente para conseguir atenção.
Apesar de esse comportamento facilitar o cumprimento das ordens médicas no estado de doença aguda, a regressão exagerada e prolongada dificulta seriamente a capacidade de se adaptar a processos crônicos e o retorno a um funcionamento sócia normal.
Há muito já se sabe que o ambiente hospitalar favorece a regressão por meio do reforço da passividade, da incerteza do significado do diagnóstico médico para o paciente e da promessa implícita de que, se ele se comportar bem, suas necessidades mais primitivas serão satisfeitas. O paciente é incapaz de reassumir seu papel na reabilitação e independência enquanto está deitado no leito com uma enfermeira tomando conta dele. Muitas das características indesejáveis do paciente de dor crônica podem ser entendidas, se considerarmos que ele apenas atua dentro da estrutura dessas expectativas.
 A hospitalização repetida apenas vem reforçar essas características. A nosso ver, as avaliações psicológicas, especialmente testes aplicados como métodos diagnósticos, têm valor muito limitado no paciente crônico, por causa dessa regressão. Por exemplo, os investigadores que utilizaram o MMPI (Minnesota Multiphasic Personality Inventory) na avaliação da neurose desses pacientes não conseguiram demonstrar nenhuma diferença evidente entre o doente com dor de origem psicológica e o doente com dor de origem orgânica, nem prever a resposta a um ato cirúrgico.
Os sintomas de regressão percebidos na avaliação psicológica ou traduzidos por uma neurose elevada no teste do MMPI frequentemente levam a um diagnóstico errôneo de hipocondria, depressão ou alteração da personalidade.
Provavelmente os sintomas e alterações do MMPI representam apenas maior ou menor grau de regressão ao comportamento próprio do paciente crônico.
Assim, as histórias e a representação de pacientes de dor crônica são notavelmente parecidas e representam apenas uma busca obstinada por tratamento definitivo de uma dor sem cura.
Em presença de grau mais ou menos avançado de regressão, colocamos em dúvida o valor dos testes psicológicos usuais como métodos de diagnóstico ou prognóstico. Se por intermédio de estratégias várias conseguimos remover os pacientes de sua posição regredida, é possível chegar a conclusões diagnósticas ou prognósticas mais apuradas. Em nossa experiência, a severidade de um problema de dor crônica (e, portanto, da dificuldade de recuperação) varia de modo contínuo e dependente basicamente da maior ou menor necessidade que o paciente tem de permanecer doente.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Terapia genética contra a dor

Cientistas americanos anunciam o sucesso de método que usa o poder de um gene para reduzir drasticamente o sofrimento
Rachel Costa

Um novo método em teste nos Estados Unidos pode revolucionar o tratamento da dor crônica. Cientistas do Departamento de Neurologia da Universidade de Michigan estão fazendo as primeiras aplicações em seres humanos de um procedimento baseado em terapia genética. Os voluntários são dez pacientes que sofrem dores agudas e constantes causadas por câncer. Eles estão recebendo injeções sob a pele de um composto contendo um gene, o PENK, responsável pela produção de encefalina – um dos opioides naturalmente fabricados por nosso organismo e que possui efeito analgésico. Nos testes feitos até agora, os pacientes que receberam altas doses obtiveram uma redução da dor de até 80%.

O resultado é animador. Especialmente por representar uma grande esperança para os portadores de dor de origem neurológica. “Essas são as mais difíceis de tratar”, explica João Batista Garcia, presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor. “Com os medicamentos que temos hoje à disposição, comemoramos quando o doente consegue uma redução de 30% na intensidade”, diz.
O método abre uma nova frente na batalha contra a dor e tem potencial para eliminar a necessidade do uso de analgésicos farmacológicos, que comumente causam efeitos colaterais como constipação, sonolência, náuseas e vômito. Por meio dele, é possível dar condições ao próprio organismo de produzir os opioides necessários para bloquear a sensação dolorosa.

Outra vantagem da terapia gênica é atuar apenas sobre o alvo. Enquanto o medicamento comum percorre um longo caminho até a origem da dor, passando por vários órgãos através da circulação sanguínea, o gene injetado age diretamente sobre as células nervosas – exatamente aquelas por meio das quais o sinal da dor é transmitido até o cérebro, onde é processado.

Isso é possível porque ele é levado até elas por um vírus, o da herpes simples. “Normalmente, quando entra no corpo, esse vírus procura as células nervosas”, explica a médica Fabíola Minson, coordenadora da equipe de tratamento da dor do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Por isso ele foi o escolhido. Porém, para o procedimento, o vírus passa por modificações: a parte do seu material genético causadora da doença é retirada e a ele é adicionado o gene PENK. Dessa maneira, ele se torna um ótimo veículo transportador, carregando o gene certo para o lugar certo, sem oferecer nenhuma ameaça à saúde. “O composto contendo o vírus modificado, após ser aplicado nos terminais nervosos da pele, começa a estimular o corpo a produzir a encefalina”, disse à ISTOÉ David Fink, coordenador da pesquisa.

Em uma etapa anterior, ainda durante os testes em animais, o método mostrou-se eficiente também em casos de dor crônica causada por lesão dos nervos e inflamações, além de câncer. A equipe americana pretende, até o fim do ano, ter em mãos os resultados da segunda fase dos estudos clínicos – na qual compara-se um grupo medicado com placebo a outro que recebeu a terapia.

Tratar a dor crônica é um dos maiores desafios atuais da medicina. Grande incidência e poucas opções de tratamento são os principais empecilhos. No Brasil, calcula-se que uma a cada três pessoas sofra com o problema, usualmente tratado por meio de analgésicos, anticonvulsivantes e antidepressivos. O surgimento de uma terapia mais eficiente é esperança de mais qualidade de vida aos milhares de pessoas que hoje têm de se acostumar a viver com a dor.





Fonte: http://www.istoe.com.br/reportagens/133271_TERAPIA+GENETICA+CONTRA+A+DOR

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Saiba mais sobre a estimulação medular espinhal, uma alternativa no tratamento da dor crônica

Escrito por Dr. Claudio Fernandes Corrêa

A dor crônica  é um sintoma que acomete a população de ambos os sexos e de diferentes faixas etárias, debilitando o indivíduo e interferindo na sua qualidade de vida. Para tratá-la, muitas vezes as terapias convencionais, baseadas em medicamentos e outras áreas adjuvantes, não são mais eficazes e suficientes, exigindo novas formas de tratamentos intervencionistas.

Quando as terapias convencionais falham no tratamento da dor crônica, uma das opções que têm ganhado espaço na medicina é a estimulação medular espinhal (EME). Trata-se de uma técnica na qual, após o uso de anestésico local, o especialista coloca fios flexíveis e finos com condutores elétricos, chamados de eletrodos, nas costas, dentro da coluna vertebral. A partir daí, os eletrodos são conectados a uma pequena bateria, que possibilita programar a corrente elétrica numa configuração que se direcione às regiões dolorosas exatas para promover o melhor alívio possível.

Segundo o neurocirurgião Claudio Fernandes Corrêa, a estimulação medular espinhal traz vantagens em relação a outros procedimentos cirúrgicos considerados mais invasivos por não apresentar efeitos colaterais e por ser reversível.

"A neuroestimulação medular apresenta grau de evidência para diferentes indicações. Naquelas indicações onde o grau de evidência científica não está claramente definido, há experiências inquestionáveis de grupos profissionais em instituições acadêmicas sérias, comprovando sua eficácia. Além de tudo, é um método de estimulação e reversível, se necessário for", ressalta.

Apesar de ter algumas contraindicações, o tratamento com a estimulação medular oferece um índice de redução da dor bastante elevado e que só pode ser compreendido por aqueles que sofrem com a dor crônica e têm comprometidas as suas atividades cotidianas.

"As contraindicações relacionam-se a condições clínicas gerais desfavoráveis, tais como processo infeccioso em vigência, além de distúrbios de coagulação, por exemplo. As indicações principais são relacionadas ao quadro de dor crônica neuropática e, menos frequentemente, dor mista, como nos pacientes com câncer que evoluem com dor", completa Claudio.

Outras aplicações da técnica

A técnica da neuroestimulação cresce exponencialmente em todo o mundo e é estudada por diversos pesquisadores da área neurocirúrgica, urológica, gastroenterológica e neurológica, entre outras. Anualmente, esses estudiosos apresentam seus trabalhos no Congresso Mundial de Neuromodulação, que ocorrerá em 2013 na cidade de Berlim, na Alemanha.

Com o avanço dos estudos na área, verificou-se a possibilidade de aplicação da técnica de estimulação em outras áreas além das dores crônicas, como na de neurocirurgia funcional. "A neuroestimulação envolve o tratamento dos transtornos do comportamento (depressão refratária, transtorno obsessivo compulsivo, agressividade, transtorno de ansiedade, etc.), bulimia, anorexia, síndromes de adição (cocaína, heroína, morfina, crack, tabagismo) e déficit de memória, como no Alzheimer", afirma Claudio.

Ainda de acordo com o neurocirurgião, a neuroestimulação também pode ser empregada na reabilitação de pacientes que sofreram acidente vascular encefálico, além de doenças com a presença de movimentos involuntários, como Parkinson, Distonia, Tremor Essencial.

Fonte: http://idmed.terra.com.br/viva-melhor/dicas-basicas/saiba-mais-sobre-a-estimulacao-medular-espinhal-uma-alternativa-no-tratamento-da-dor-cronica.html

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Responsabilidades e o papel da fisioterapia no tratamento da dor


Por:
Artur Padão Gosling
Alessandra Evaristo Dantas
Humberto Leal Cruz Neto
Raphael Luz de Souza
Marcia Valéria Aquino Molinaro

      Ao considerarmos a dor como o principal sintoma que faz as pessoas buscarem serviços de saúde, a fisioterapia tem a responsabilidade de atuar significativamente nos cuidados ao paciente com dor. Porém, se consideramos a dor como um problema de saúde, atuação da fisioterapia depende da integração multiprofissional e interdisciplinar. Síndromes dolorsosas como as cefaléias, lombalgias, fibromialgia e síndrome dolorosa miofascial, comuns a diversos serviços de saúde brasileiros, mantém pacientes incapacitados e afastados de suas atividades diárias. Em vista disso, a formação do fisioterapeuta brasileiro se encaixa nas necessidades dos pacientes com dor, principalmente quando falamos de controle da dor e recuperação físico funcional. Abordagens são propostas com o objetivo de modular a dor, modificar percepções distorcidas e comportamentos anormais, combater crenças, mitos e atitudes disfuncionais, ganho de função, retorno as atividades e melhora da qualidade de vida. Por isso, podemos dizer que a fisioterapia no tratamento da dor é uma intervenção física e cognitiva comportamental, baseada em estratégias de educação e manejo da dor.

       A atuação nos diversos níveis de atenção a saúde também são de responsabilidade do fisioterapeuta. Apesar da aceitação sobre a dor ser um problema de saúde mundial, a avaliação, tratamento e prevenção da dor são desafios a serem superados. Barreiras como a falta de conhecimento científico, a falta de pesquisas e de fundos financeiros contribuem para o subtratamento da dor por fisioterapeutas e outros profissionais. Eventos promovidos nos últimos 5 anos pela Associação Internacional para o Estudo da Dor concluíram que existe um grande déficit de conhecimento sobre a neurofisiologia e manejo da dor em todos os profissionais da saúde. Portanto, se faz necessária uma formação diferenciada e de educação continuada em dor.


       A responsabilidade social do fisioterapeuta vai além do tratamento da dor. O respeito e dedicação ao paciente com dor são pontos muitas vezes esquecidos pelos profissionais. Frequentemente, pacientes com dor são destratados, humilhados pelos serviços de saúde e ignorados pelo seu comportamento de estar doente. A busca incansável por tratamentos, pela cura e por diversos profissionais de saúde são características marcantes aos pacientes que sofrem de dores persistentes, adquirido a necessidade de mostrar a importância dos sintomas aos profissionais – comportamento doloroso. Além disso, é dever do fisioterapeuta devolver aos pacientes o convívio social e estimular o retorno ao trabalho, com o objetivo de fortalecer a economia e valorizar o trabalho dos serviços de saúde brasileiros. Alívio da dor é um direito do paciente com dor, porém o alivio do sofrimento e das incapacidades é uma responsabilidade social e ética do fisioterapeuta.


       O papel da fisioterapia exige uma atuação holística com uma abordagem biopsicossocial, o qual traz uma visão mais abrangente e humana. O contato frequente com os pacientes em sofrimento, com a incapacidade funcional e com as dificuldades em lidar com a dor necessita que o fisioterapeuta seja um profissional diferenciado. Outro importante papel da fisioterapia no tratamento da dor é desenvolver estratégias para uma boa relação com o paciente: comunicação eficaz, habilidades e educação em dor. Por diversas vezes, a relação entre o fisioterapeuta e o paciente com dor torna-se distorcida pela dificuldade que o fisioterapeuta tem em lidar com a dor e com os problemas trazidos dos pacientes, por expectativas opostas e irreais quanto ao tratamento, preocupação excessiva em aplicar técnicas e a pouca integração com outros profissionais de saúde. A maioria dos problemas trazidos pelo paciente com dor persistente não serão resolvidos com modalidades físicas. Portanto, a atuação do fisioterapeuta não deve se limitar somente a aplicação de técnicas para o alívio da dor. A compreensão, a forma de lidar com problemas e preocupações dos pacientes, o entendimento da proposta de tratamento, expectativas reais e as recomendações, bem como o ajuste das terapias as necessidades particulares aumentam as chances de adesão e efetividade do tratamento.
 

      O entendimento da definição de dor proposta pela Associação Internacional para o Estudo da Dor em 1994 resume as principais dimensões envolvidas na dor e mostra justamente as principais deficiências dos profissionais de saúde no conhecimento sobre a dor – “uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a uma lesão real ou potencial dos tecidos ou descrita em termos de tais lesões”. Olhando para esta definição, vemos a importância de fatores emocionais, comportamentais e cognitivos, os quais somam-se aos aspectos físicos dos pacientes, tornando a dor uma experiência subjetiva e pessoal, influenciada por crenças, atitudes, cultura e religião. Portanto, não existe uma dor puramente física ou psíquica. Existem, na verdade, experiências dolorosas que ocorrem ao longo da vida das pessoas e que, em algum momento, podem tornar-se complexas, incapacitantes e sofridas. Cabe ao fisioterapeuta ter um papel profissional de educador, sendo responsável por atender as necessidades da população brasileira e para contribuir de forma integrada as equipes multiprofissionais e interdisciplinares de dor.

Nunca ignore a dor; ela é um importante sinal de alerta do corpo

A dor possui aspectos positivos, pois os incômodos que sentimos no corpo significam que estamos vivos e somos capazes de enviar estímulos ao cérebro

Sabe aquele ditado “ruim com ela, pior sem ela”? Pois é, ele pode ser aplicado à dor. Isso mesmo. O fato é que, apesar de ninguém gostar de sentir dor, ela é muito importante para nossa saúde e bem-estar. Afinal, ela é um sinal de alerta, indicando que algo está errado, e também um mecanismo de proteção, apontando que há um perigo que deve ser evitado.

“A dor é um sintoma muito importante, pois é a forma que o corpo tem de se comunicar com a gente, nos informando de que algo está errado”, afirma o quiropraxista Luiz Miyajima, pós-graduado em quiropraxia esportiva pela New York Chiropractic College (EUA) e responsável pela clínica QuiroVida no Brasil.

Quando uma pessoa sente dor, na maioria das vezes ela tem duas reações: tomar algum medicamento que dê alívio imediato ou ignorar e esperar passar. E as duas reações são muito perigosas.

Muitos brasileiros têm o costume de tomar medicamentos para eliminar a dor – muitas vezes sem procurar assistência médica. Só que isso, além de não resolver o problema, pode também agravá-lo. Afinal, os analgésicos eliminam a dor, mas não a enfermidade, e não tratar a causa da dor pode fazer com que ela se agrave e se torne ainda mais difícil de curar.


“Devemos nos preocupar com o que está causando a dor, e não somente em melhorarmos os sintomas. Descobrir a sua origem é fundamental para evitar o agravamento do problema”, diz Miyajima. Além disso, o abuso de analgésicos tem consequências ruins, pois, com o uso contínuo de medicamentos, o cérebro pode passar a não produzir endorfinas, um analgésico natural, e acarretar problemas como a cefaleia crônica diária.


Por outro lado, muitas pessoas acreditam que a dor é passageira e não é motivo para procurar um médico. Mas isso é igualmente perigoso “Seria o mesmo que ter um alarme contra incêndio e não tomar nenhuma atitude quando o mesmo dispara. Pode ser somente um alarme falso, mas também pode ser um grande incêndio. Por isso a investigação sempre deve ser realizada”, afirma  Andreia Lusvarghi Witzel, professora de Estomatologia Clínica da USP.


Um bom exemplo dessa situação é o câncer de boca: os pacientes geralmente procuram assistência médica somente depois que a dor se torna muito grande, o que acontece quando o tumor já está em estágio avançado - o que dificulta e pode inviabilizar o tratamento.


Dores nas costas, que geralmente são ignoradas, podem esconder problemas mais graves, como o complexo de subluxação vertebral, uma disfunção articular que causa a alteração da faixa normal de movimento e muitas dores nas articulações.


Por isso é importante não desprezar ou tentar disfarçar a dor, mas sim buscar suas causas. Nenhuma dor, por menor que seja, deve ser ignorada. Se o corpo está enviando um sinal de alerta, é importante ouvi-lo e investigá-lo. “O que temos que ter em mente é que a dor só deve ser tratada depois de diagnosticada, pois eu não desligo o alarme do incêndio enquanto não tiver certeza que o fogo está apagado ou pelo menos que os bombeiros já chegaram”, ressalta Witzel.



  • Se não sentíssemos dor, provavelmente não saberíamos que estamos machucados ou doentes, e não procuraríamos por tratamento
Não sentir dor é problema
Assim, a dor tem um papel fundamental na sobrevivência e preservação. Afinal, se não sentíssemos dor, provavelmente não saberíamos que estamos machucados ou doentes, e não procuraríamos por tratamento, o que levaria a uma piora do quadro e até mesmo à morte. Exagero? Nem um pouco. Algumas pessoas que sofrem de uma doença rara chamada CIPA (insensibilidade congênita à dor) sabem bem como é perigoso não ter esse alarme natural do corpo. Por uma disfunção no sistema neurológico, elas simplesmente não podem sentir qualquer espécie de dor.

O que para alguns pode parecer uma grande vantagem na verdade é um risco muito complicado. Afinal, por não sentirem dor, essas pessoas não percebem situações como queimar a mão numa panela quente, cortar o braço em um objeto afiado ou mesmo quebrar um osso. E isso pode ter consequências complicadíssimas, pois o quadro não tratado pode se agravar ou evoluir para infecções. “Em geral pessoas que sofrem desse mal morrem muito jovens, quase sempre por motivos banais como queimaduras ou pequenos ferimentos”, aponta Witzel,


A dor também pode ser sentida em casos que não há um ameaça direta ao organismo, como por exemplo, em casos de estresse, em que a pessoa pode sentir dores nas costas ou dores de cabeça. “Não é necessário alteração ou lesão no organismo para causar dor”, diz George Miguel Góes Freire, anestesiologista, acupunturista e algologista do Hospital Albert Einsten. Mas mesmo assim ela se constitui um sinal de alerta de que há algo está errado: senão no organismo, no modo de viver, sendo importante agir para mudar o contexto – buscando o equilíbrio e o bem-estar – para eliminar essa dor.



Fonte: http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2012/10/02/nunca-ignore-a-dor-ela-e-um-importante-sinal-de-alerta-do-corpo.htm 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Conheça mais sobre a dor

Introdução

“DOR - Experiência sensitiva e emocional desagradável associada ou relacionada a lesão real ou potencial dos tecidos. Cada indivíduo aprende a utilizar esse termo através das suas experiências anteriores.”
IASP- International Association for the Study of Pain


“A dor continua sendo uma das grandes preocupações da Humanidade. Desde os primórdios do ser humano, conforme sugerem alguns registros gráficos da pré-história e os vários documentos escritos ulteriormente, o homem sempre procurou esclarecer as razões que justificassem a ocorrência de dor e os procedimentos destinados a seu controle.

A expressão da dor varia não somente de um indivíduo para outro, mas também de acordo com as diferentes culturas”...

A ocorrência de dor, especialmente crônica, é crescente, talvez em decorrência de:
- novos hábitos de vida;
- maior longevidade do indivíduo;
- prolongamento de sobrevida dos doentes com afecções clínicas naturalmente fatais;
- modificações do ambiente em que vivemos; e provavelmente,
- do reconhecimento de novos quadros dolorosos e da aplicação de novos conceitos que traduzam seu significado.

Além de gerar estresses físicos e emocionais para os doentes e para os seus cuidadores, a dor é razão de fardo econômico e social para a sociedade”. (Prof. Dr. Manoel Jacobsen Teixeira – Neurocirurgião, Fac. De Medicina da USP).


Classificação

A dor pode ser considerada como um sintoma ou manifestação de uma doença ou afecção orgânica, mas também pode vir a constituir um quadro clínico mais complexo. Existem muitas maneiras de se classificar a dor. Considerando a duração da sua manifestação, ela pode ser de três tipos:

DOR AGUDA - Aquela que se manifesta transitoriamente durante um período relativamente curto, de minutos a algumas semanas, associada a lesões em tecidos ou órgãos, ocasionadas por inflamação, infecção, traumatismo ou outras causas. Normalmente desaparece quando a causa é corretamente diagnosticada e quando o tratamento recomendado pelo especialista é seguido corretamente pelo paciente.

A dor constitui-se em importante sintoma que primariamente alerta o indivíduo para a necessidade de assistência médica. Veja aqui alguns exemplos: - a dor pós-operatória (que ocorre após uma cirurgia); - a dor que ocorre após um traumatismo; - a dor durante o trabalho de parto; - a dor de dente; - as cólicas em geral, como nas situações normais (fisiológicas) do organismo que podem provocar dores agudas, como o processo da ovulação e da menstruação na mulher.

DOR CRÔNICA - Tem duração prolongada, que pode se estender de vários meses a vários anos e que está quase sempre associada a um processo de doença crônica. A dor crônica pode também pode ser conseqüência de uma lesão já previamente tratada. Exemplos: Dor ocasionada pela artrite reumatóide (inflamação das articulações), dor do paciente com câncer, dor relacionada a esforços repetitivos durante o trabalho, dor nas costas e outras.

DOR RECORRENTE - Apresenta períodos de curta duração que, no entanto, se repetem com freqüência, podendo ocorrer durante toda a vida do indivíduo, mesmo sem estar associada a um processo específico. Um exemplo clássico deste tipo de dor é a enxaqueca.


Fonte: http://www.dor.org.br/publico/intro.asp