quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Terapia genética contra a dor

Cientistas americanos anunciam o sucesso de método que usa o poder de um gene para reduzir drasticamente o sofrimento
Rachel Costa

Um novo método em teste nos Estados Unidos pode revolucionar o tratamento da dor crônica. Cientistas do Departamento de Neurologia da Universidade de Michigan estão fazendo as primeiras aplicações em seres humanos de um procedimento baseado em terapia genética. Os voluntários são dez pacientes que sofrem dores agudas e constantes causadas por câncer. Eles estão recebendo injeções sob a pele de um composto contendo um gene, o PENK, responsável pela produção de encefalina – um dos opioides naturalmente fabricados por nosso organismo e que possui efeito analgésico. Nos testes feitos até agora, os pacientes que receberam altas doses obtiveram uma redução da dor de até 80%.

O resultado é animador. Especialmente por representar uma grande esperança para os portadores de dor de origem neurológica. “Essas são as mais difíceis de tratar”, explica João Batista Garcia, presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor. “Com os medicamentos que temos hoje à disposição, comemoramos quando o doente consegue uma redução de 30% na intensidade”, diz.
O método abre uma nova frente na batalha contra a dor e tem potencial para eliminar a necessidade do uso de analgésicos farmacológicos, que comumente causam efeitos colaterais como constipação, sonolência, náuseas e vômito. Por meio dele, é possível dar condições ao próprio organismo de produzir os opioides necessários para bloquear a sensação dolorosa.

Outra vantagem da terapia gênica é atuar apenas sobre o alvo. Enquanto o medicamento comum percorre um longo caminho até a origem da dor, passando por vários órgãos através da circulação sanguínea, o gene injetado age diretamente sobre as células nervosas – exatamente aquelas por meio das quais o sinal da dor é transmitido até o cérebro, onde é processado.

Isso é possível porque ele é levado até elas por um vírus, o da herpes simples. “Normalmente, quando entra no corpo, esse vírus procura as células nervosas”, explica a médica Fabíola Minson, coordenadora da equipe de tratamento da dor do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Por isso ele foi o escolhido. Porém, para o procedimento, o vírus passa por modificações: a parte do seu material genético causadora da doença é retirada e a ele é adicionado o gene PENK. Dessa maneira, ele se torna um ótimo veículo transportador, carregando o gene certo para o lugar certo, sem oferecer nenhuma ameaça à saúde. “O composto contendo o vírus modificado, após ser aplicado nos terminais nervosos da pele, começa a estimular o corpo a produzir a encefalina”, disse à ISTOÉ David Fink, coordenador da pesquisa.

Em uma etapa anterior, ainda durante os testes em animais, o método mostrou-se eficiente também em casos de dor crônica causada por lesão dos nervos e inflamações, além de câncer. A equipe americana pretende, até o fim do ano, ter em mãos os resultados da segunda fase dos estudos clínicos – na qual compara-se um grupo medicado com placebo a outro que recebeu a terapia.

Tratar a dor crônica é um dos maiores desafios atuais da medicina. Grande incidência e poucas opções de tratamento são os principais empecilhos. No Brasil, calcula-se que uma a cada três pessoas sofra com o problema, usualmente tratado por meio de analgésicos, anticonvulsivantes e antidepressivos. O surgimento de uma terapia mais eficiente é esperança de mais qualidade de vida aos milhares de pessoas que hoje têm de se acostumar a viver com a dor.





Fonte: http://www.istoe.com.br/reportagens/133271_TERAPIA+GENETICA+CONTRA+A+DOR

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Saiba mais sobre a estimulação medular espinhal, uma alternativa no tratamento da dor crônica

Escrito por Dr. Claudio Fernandes Corrêa

A dor crônica  é um sintoma que acomete a população de ambos os sexos e de diferentes faixas etárias, debilitando o indivíduo e interferindo na sua qualidade de vida. Para tratá-la, muitas vezes as terapias convencionais, baseadas em medicamentos e outras áreas adjuvantes, não são mais eficazes e suficientes, exigindo novas formas de tratamentos intervencionistas.

Quando as terapias convencionais falham no tratamento da dor crônica, uma das opções que têm ganhado espaço na medicina é a estimulação medular espinhal (EME). Trata-se de uma técnica na qual, após o uso de anestésico local, o especialista coloca fios flexíveis e finos com condutores elétricos, chamados de eletrodos, nas costas, dentro da coluna vertebral. A partir daí, os eletrodos são conectados a uma pequena bateria, que possibilita programar a corrente elétrica numa configuração que se direcione às regiões dolorosas exatas para promover o melhor alívio possível.

Segundo o neurocirurgião Claudio Fernandes Corrêa, a estimulação medular espinhal traz vantagens em relação a outros procedimentos cirúrgicos considerados mais invasivos por não apresentar efeitos colaterais e por ser reversível.

"A neuroestimulação medular apresenta grau de evidência para diferentes indicações. Naquelas indicações onde o grau de evidência científica não está claramente definido, há experiências inquestionáveis de grupos profissionais em instituições acadêmicas sérias, comprovando sua eficácia. Além de tudo, é um método de estimulação e reversível, se necessário for", ressalta.

Apesar de ter algumas contraindicações, o tratamento com a estimulação medular oferece um índice de redução da dor bastante elevado e que só pode ser compreendido por aqueles que sofrem com a dor crônica e têm comprometidas as suas atividades cotidianas.

"As contraindicações relacionam-se a condições clínicas gerais desfavoráveis, tais como processo infeccioso em vigência, além de distúrbios de coagulação, por exemplo. As indicações principais são relacionadas ao quadro de dor crônica neuropática e, menos frequentemente, dor mista, como nos pacientes com câncer que evoluem com dor", completa Claudio.

Outras aplicações da técnica

A técnica da neuroestimulação cresce exponencialmente em todo o mundo e é estudada por diversos pesquisadores da área neurocirúrgica, urológica, gastroenterológica e neurológica, entre outras. Anualmente, esses estudiosos apresentam seus trabalhos no Congresso Mundial de Neuromodulação, que ocorrerá em 2013 na cidade de Berlim, na Alemanha.

Com o avanço dos estudos na área, verificou-se a possibilidade de aplicação da técnica de estimulação em outras áreas além das dores crônicas, como na de neurocirurgia funcional. "A neuroestimulação envolve o tratamento dos transtornos do comportamento (depressão refratária, transtorno obsessivo compulsivo, agressividade, transtorno de ansiedade, etc.), bulimia, anorexia, síndromes de adição (cocaína, heroína, morfina, crack, tabagismo) e déficit de memória, como no Alzheimer", afirma Claudio.

Ainda de acordo com o neurocirurgião, a neuroestimulação também pode ser empregada na reabilitação de pacientes que sofreram acidente vascular encefálico, além de doenças com a presença de movimentos involuntários, como Parkinson, Distonia, Tremor Essencial.

Fonte: http://idmed.terra.com.br/viva-melhor/dicas-basicas/saiba-mais-sobre-a-estimulacao-medular-espinhal-uma-alternativa-no-tratamento-da-dor-cronica.html